Criança de concreto, por Michele Melo
Criança de concreto
Se confunde com vigas,
paus, pedras, sarjetas.
Jogado ao vento,
Com fome em sua barriga,
Companheira do relento.
Menino de rua
Perto, longe, invisível,
Vive a realidade crua,
Desprezível
De onde veio?
– alguém pergunta.
Por que está aí?
– me questiono.
Como animal solto e sem dono
…
Vive vagando por ruas,
Becos, nas sombras,
É desprezível
É não-criança
É imprestável
Um grito:
É culpa sua!
(Ou nossa)
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