Resenha – A moça do internato (Nadiêdja Khvoschínskaia), por Malu Silva
A literatura russa é repleta de grandes talentos, e dentre suas autoras Nadiêdja Khvoschínskaia é um dos maiores destaques. Publicada no Brasil pela editora Zouk, sua obra A moça do internato cativou muitos leitores pelo mundo. É que a história presente neste livro, apesar de se passar na Rússia, poderia ter como cenário muitos outros lugares: basta imaginar uma cidade pequena do interior e uma jovem estudante de um internato.
Mas a simplicidade dessa narrativa fica só por conta de seu cenário mesmo, pois outras reflexões bastante complexas se apresentam no contexto da protagonista Liôlienka. Sua vida, resumida em estudar e cuidar dos irmãos mais novos, começa a mudar quando um rapaz mais velho se muda para a casa ao lado da sua. Eles se conhecem na cerca que divide os seus terrenos, e logo as indagações trazidas por ele passam a afetar a mente dela. Liôlienka começa a questionar o sentido de suas próprias ações, e as perspectivas para o seu futuro não agradam em nada a menina.
“Por que os pais se importam se suas filhas serão bem-educadas ou não? Se, no fim das contas, os pais só fazem desmerecer qualquer conhecimento que as filhas têm?” p. 79
Logo o vizinho Veretítsin começa a se tornar uma espécie de mentor na vida de Liôlienka, por mais que não seja sua intenção. A garota passa a refletir sobre questões que nunca antes fizeram parte de seu cotidiano, e o rapaz lhe apresenta novas visões de mundo, novos livros, novas possibilidades. Ao mesmo tempo Veretítsin enfrenta os seus próprios dilemas, que envolvem sua vida amorosa e profissional.
O livro é uma crítica à subjugação das mulheres, e apesar de ter sido publicado em 1861 reflete problemáticas pertinentes até hoje. A narrativa de Nadiêdja é bastante progressista, mostrando o crescimento e o empoderamento de uma personagem interessantíssima. Sua escrita é fluída e gostosa de ler, repleta de diálogos intensos e momentos que nos enchem de expectativas sobre o que está por vir. Com apenas 166 páginas, o livro é perfeito para ler num fim de semana e te deixar com o coração quentinho ao finalizar uma obra tão bonita.
Resenhado por Malu Silva, do blog Janela Literária
Comentários