Clube de Leitura do Pacote – A noiva do tradutor (João Reis), por Juliana Costa

A noiva do tradutor é um romance de autoria do escritor e tradutor português (ou seria tradutor e escritor?) João Reis, que foi semifinalista do Prêmio Oceanos de 2019. Estreia do autor no Brasil, com edição pela DBA Literatura, foi enviado para assinantes, parceiros e parceiras do Pacote de Textos no kit de agosto e foi objeto de uma conversa muito bacana no Clube do Pacote, que aconteceu no dia 25 de setembro e que, inclusive, contou com a presença do autor.

Em A noiva do tradutor, acompanhamos um dia na vida do narrador, um tradutor que vê sua noiva Helena partir num navio sem sequer lhe dar um aceno de adeus. A partir dessa cena, inicia-se o trajeto do tradutor de volta para a sua pensão e, ainda no bonde, tomamos conhecimento de toda a rabugice e a ironia que a personagem carrega consigo.

É interessante notar que o autor inverte o que normalmente acontece ainda hoje: na obra, quem parte em busca de novas perspectivas de vida é a mulher, enquanto quem fica e rumina sua dor numa vida que considera miserável e infeliz é o homem, o nosso tradutor, personagem este que nem nome tem. Seu nome não aparece no título do livro nem, tampouco, nas suas 128 páginas. Assim como em seu ofício, a nossa personagem passa por um processo de apagamento durante a narrativa.

Acompanhamos o tradutor vivendo uma vida privada das necessidades mais básicas. Reclamando do pouco reconhecimento dado a seu ofício, do mau pagamento dele e, até mesmo, do não pagamento. E, de forma muito divertida e sarcástica, seguimos entre o que se passa na cabeça do tradutor, aquilo que em seus pensamentos ele consegue verbalizar e reclamar; e, por outro lado, os modos e costumes necessários para uma boa convivência social, entre quem mora na mesma pensão que ele, quem frequenta o mesmo café e seus empregadores.

João Reis faz uma dura crítica à sociedade e ao seu ofício. Sendo ele tradutor de línguas nórdicas, esta foi uma das questões que instigou a discussão no encontro do Clube. Publicar um livro tão ácido e crítico sobre seu próprio ofício, segundo o autor, foi uma forma de exorcizar certas questões que ele mesmo tinha e que o incomodam. E, por outro lado, fazer uma discussão contemporânea sobre as questões relativas ao ofício de tradutores que, pelo que percebemos, lá em Portugal e aqui no Brasil são muito semelhantes: já que, tanto lá quanto aqui, poucas são as editoras que inserem o nome de tradutoras(es) na capa dos livros, por exemplo.

O encontro do clube foi bem divertido, tal qual a leitura do livro, que inseriu um contexto mais leve na curadoria do Pacote de Textos, uma das solicitações de quem assina o clube. Afinal, o contexto real que vivenciamos não está nada fácil, não é mesmo?

Fica aqui a dica para que vocês possam ler o livro e se divertir com o tradutor criado por João Reis.

Para quem perdeu, o encontro do Pacote está disponível, na íntegra, no Canal do Pacote no YouTube.

Texto por Juliana Costa (@coisasqueleio).

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