Resenha – Memórias de minhas putas tristes (Gabriel García Márquez), por Malu Silva

Ler Gabriel García Márquez é uma experiência e tanto. “Memória de minhas putas tristes” não é um de seus títulos mais aclamados, mas não deixa de ser uma grande obra escrita de maneira genial, com toques de Nabokov e Kawabata

O livro nos traz a premissa um tanto incômoda de um velho que, ao completar 90 anos, decide se dar de presente uma noite com uma adolescente virgem. Entretanto logo descobrimos através do próprio velho, narrador dessa história em primeira pessoa, que este desejo nunca se consumou. Mesmo assim, acompanhamos seu contato com Rosa Cabarcas, dona de um prostíbulo que o auxilia na busca de uma garota, e os acontecimentos provenientes disto. 

“Não se engane: os loucos mansos se antecipam ao porvir”. p. 76

É possível encarar este livro como a história de um amor vulgar, mas ao se aprofundar na narrativa percebemos que se trata de um romance sobre as fases da vida e a chegada da velhice. As memórias são muito mais de um velho triste do que de suas putas, que são coadjuvantes de sua vida, a não ser talvez por Delgadina (nome que ele atribui à adolescente virgem), que é muito mais um símbolo que uma pessoa real em sua vida. 

“Havia achado, sempre, que morrer de amor não era outra coisa além de uma licença poética. Naquela tarde, de regresso para casa outra vez, sem o gato e sem ela, comprovei que não apenas era possível, mas que eu mesmo, velho e sem ninguém, estava morrendo de amor. E também percebi que era válida a verdade contrária: não trocaria por nada neste mundo as delícias do meu desassossego.” p. 95

A leitura desta obra proporciona um misto de sentimentos: há quem, como eu, sinta repulsa pela visão deste homem acerca das mulheres, que são apenas objetos para o seu uso, mesmo que por elas ele nutra algum sentimento. Por outro lado, é possível apreciar a escrita e as belíssimas reflexões sobre a vida trazidas pelo autor dentro desta narrativa. Recomendo para quem busca uma leitura fluida, com toques poéticos e que proporcionem um estado contemplativo, com palavras que ruminam em nossa mente durante um bom tempo. 

Resenhado por Malu Silva, do blog Janela Literária

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