Clube de Leitura do Pacote – Os trabalhos e as noites (Alejandra Pizarnik), por Juliana Costa
No nosso encontro de agosto do Clube do Pacote de Textos, conversamos sobre o livro Os trabalhos e as noites, de Alejandra Pizarnik. Livro de poemas lançado em 1965 e que compõe um dos livros centrais da obra publicada pela autora. Obra curta, é verdade, mas intensa e densa. Alezandra faleceu em 1972, aos 36 anos, após tomar uma grande dose de barbitúricos e deixar escrito num quadro em seu apartamento – “Não quero ir/ nada mais/ que até o fundo.”
Ler a poesia de Pizarnik é deparar com uma concisão que impressiona. Durante nossa conversa no Clube, dialogamos sobre a força dos poemas e os temas pesados sempre abordados pela autora. Os trabalhos e as noites nos apresenta versos curtos, mas que passam sua mensagem, uma mensagem da poesia como ofício, a noite como seu espaço de elaboração. E, também, compreendida como um pedido de socorro, um pedido para sobreviver.
A autora faz uso de palavras recorrentes em sua escrita. Noite, pássaro, coração, vento, espelho, flor, lilás, sede… compõem um repertório pequeno, mas que nas mãos da autora ganham significados e significantes vários. Essa foi outra característica que se destacou na conversa do Clube: a forma como Pizarnik escreve o poema de uma forma que nos faz voltar e ficar refletindo sobre e como ela conseguiu chegar a ele. Não é uma poesia que explica tudo. Dá margem e deixa brechas para diversas interpretações.
O livro foi recebido com surpresa pelos assinantes do Clube e não foi de fácil leitura para algumas pessoas, mas mesmo essas ficaram encantadas quando terminaram o livro e fizeram suas releituras. Destaque para os temas densos, escritos de forma tão bonita. A certeza de que, mesmo sendo poemas curtos, a autora tira deles tudo o que consegue das palavras, fazendo muito uso de metáforas e escrevendo de forma que um poema complementa o outro. Na verdade, sua obra parece se complementar. Quem já leu A Árvore de Diana pôde fazer esse link.
Sobre a edição dos livros pela Relicário, editora que em breve lançará outros títulos de Alejandra Pizarnik no Brasil, destacou-se a beleza dos exemplares e o fato de ser uma edição bilíngue. As pessoas que leem em espanhol ficaram encantadas com a fluidez dos versos em sua língua original e na musicalidade deles. Também foi citado o trabalho incrível de tradução da obra de Pizarnik feita de forma independente e disponibilizado gratuitamente por Nina Rizzi.
Ler poesia requer silêncio e o silêncio da poesia nos diz muito. Na poesia de Alejandra, eles não pedem permissão. Chegam e ocupam espaços. E, como disse Amanda, uma das participantes do encontro, “exige o esforço da inteireza para a leitura. Há que se ter estranhamento ao ler poesia”.
Para quem perdeu, o encontro do Pacote está disponível, na íntegra, no Canal do Pacote no YouTube.
Texto por Juliana Costa (@coisasqueleio).
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