Resenha – O deserto do amor, por François Mauriac
François Mauriac é um dos mais notórios escritores franceses, tendo sido laureado com o prêmio Nobel de Literatura em 1952. Com romances que discutem os dramas da natureza humana, o autor se destacou pela sua análise profunda dos sentimentos e relações sociais. Em O deserto do amor não é diferente, e percebemos logo a sua complexidade ao descobrir que o enredo trata de um triângulo amoroso do doutor Paul Courrèges e seu filho adolescente, Raymond, com a mesma mulher: Maria Cross.
Logo de início temos um Raymond de 35 anos relatando no presente o dia em que finalmente encontrou Maria Cross de novo, vendo-a com olhos de vingança. Para entender o motivo voltamos ao passado do personagem, quando ele tinha 17 anos e conheceu Maria em uma viagem de bonde. Logo que se viram os dois passaram a flertar e trocar galanteios sempre que se encontravam naquele mesmo percurso.
O que Maria não sabia é que Raymond é filho de Paul Courrèges, seu médico particular e amante, e com isso um inusitado triângulo amoroso tem início. Numa relação mais platônica do que física, Raymond se vê apaixonado por Maria, que é anos mais velha que ele e casada. O pai de Raymond, também casado, é fundamental nesta narrativa, pois é através dele que vemos os problemas de seu casamento e da família Courrèges como um todo.
Os relacionamentos representados na história dão espaço para muitas reflexões feitas pelo autor a respeito dos sentimentos dos personagens. O enredo fala muito sobre velhice e juventude, tendo Paul e Raymond como representantes deste pêndulo. Apesar de todas as diferenças entre eles, vemos em suas experiências pautas morais bem semelhantes, num urgente conflito interno. Há também um conflito na mente da própria Maria Cross, que completa este ciclo e é, na minha opinião, a personagem mais interessante do triângulo.
O livro é curto e a leitura é rápida, e as suas poucas páginas me deixaram pensando se não teria sido mais interessante que o autor tivesse desenvolvido um pouco mais os personagens, pois adoraria saber mais sobre eles. Apesar disto, é uma leitura prazerosa e que remete muito aos dramas das novelas de época. A obra é um bom caminho para quem está buscando contato com a literatura francesa, super recomendo!
Resenha por Malu Silva, do blog Janela Literária
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